A transitoriedade da vida.
Por Regina de Faria
A cada novo impacto decorrente da notícia da morte de alguém confirma a certeza de que nossa vida se resume em dois momentos marcantes: a primeira inspiração e a última expiração. No intervalo exercitamos nosso livre arbítrio consciente do fato de que nenhum de nós sairá vivo desta experiência. Para a grande maioria dos mortais e, apesar desta certeza nos rondar nos momentos de dor, com raríssimas exceções, ninguém está totalmente preparado para este momento.
Cada inspiração tem o poder de fazer o presente se transformar rapidamente em passado e de acordo com muitas tradições espirituais, só conseguiremos viver em plenitude se construirmos o aqui e agora de uma maneira consciente e transcendente celebrando o ritual de morte e renascimento que acontece naturalmente neste processo dinâmico de inspiração e expiração.
Tudo isto é fantástico em teoria até vivenciarmos a morte de pessoas próximas e queridas e de uma maneira mais dramática quando estão na flor da idade. A morte nestas circunstâncias seja de familiares ou mesmo ídolos que se transformaram em modelos de excelência em nossas vidas têm o poder de refrear a correria de nosso dia-a-dia e deveriam marcar momentos ricos de introspecção e reflexão.
A partir de dados apresentados pela Confederação Nacional de Municípios – CNM sabe-se que ao contrário dos países desenvolvidos, no Brasil, a quantidade de fatalidades em acidentes tem crescido muito e por diversos fatores que não serão aqui analisados. As estatísticas colocam o Brasil entre os países com mais mortes no trânsito no mundo. Só em 2007 a média foi de 183 mortes por dia no trânsito brasileiro (7,6 por hora).
O mapa da violência no Brasil divulgado no mês de fevereiro deste ano pelo Ministério da Justiça mostrou que houve um aumento de 32,4% nas mortes de jovens em decorrência de acidentes de transporte no período de 1998 a 2008. Na última década, o número de mortos no trânsito subiu quase 24% enquanto a quantidade de acidentes com motos cresceu 750%. Os acidentes causam mais vítimas fatais que a malária e a Aids juntas, pois mais de 35 mil pessoas morrem por ano em acidentes de trânsito no Brasil. Infelizmente estes dados estatísticos não conseguem alterar a dor latente do centro de nosso peito pela ausência de nosso convívio de uma pessoa querida.
Impressiona o número de desastres recentes e simultâneos decorrentes de catástrofes do trânsito que tem ceifado drasticamente vidas em plena juventude. Imprudência, destino ou fatalidade, seja o nome que se dê, não cabe a nós compreender as razões insondáveis de fatos tão dramáticos. Certo é que o trânsito tem sido uma arma fatal que tem retirado abruptamente de nossa convivência pessoas com todo potencial de vida e realização. Às vezes, me pergunto se o automóvel, símbolo da “era da máquina” não se transformou no ícone de uma sociedade falida que geme por transformação imediata em seus valores.
Pela lógica os filhos devem enterrar seus pais, experiência por si só muito dolorosa, mas vivenciar a inversão desta ordem cronológica nos remete ao sofrimento de Maria Santíssima ao abraçar aos pés da cruz o corpo inerte de seu Amado Filho. Compartilhar a dor de uma mãe, um pai, um amigo confidente aos pés do caixão nestas circunstâncias nos faz humildes e pequenos frente a tanta dor e me remete a um conselho de Chico Xavier:
“Viver é sempre dizer aos outros o quanto eles são importantes. Por que um dia eles se vão e ficamos com a nítida impressão que não amamos o suficiente.”
Regina de Faria Brito
Presidente SINDIANÁPOLIS
www.sindianapolis.org
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