sexta-feira, 10 de junho de 2011

O CASAMENTO DO CÉU COM A TERRA.

Por Regina de Faria

          No último dia 3 de Junho Anápolis foi presenteada com a visita ilustre do escritor, professor universitário e expoente da Teologia da Libertação no Brasil, Leonardo Boff. Ele foi membro da Ordem dos Frades Menores, mais conhecidos como Franciscanos e é respeitado pela sua história de defesa pelas causas sociais e as questões ambientais. Sua reflexão teológica abrange os campos da Ética, Ecologia e da Espiritualidade trabalhando, também no campo do ecumenismo.
         Aos 73 anos de idade ele coleciona uma produção literária composta de mais de 60 livros construindo uma história de abrangência internacional. Sua vinda à Anápolis inseriu-se nas comemorações da semana do meio ambiente de 2011 coordenada pela Prefeitura Municipal. Quem teve o privilégio de compartilhar algumas horas com tão notável presença vivenciou a emoção amplificada pela apresentação de um vídeo com os pontos principais da Carta da Terra. Este documento foi aprovado em Paris no ano de 2000 com a participação efetiva de 46 países. Leonardo Boff foi o representante do Brasil no processo de mais de dois anos de elaboração deste documento estruturado em quatro principios: (1) respeitar e cuidar da comunidade de vida; (2) integridade ecológica; (3) justiça social e econômica; (4) democracia, não-violência e paz.
         Leonardo Boff afirma que esta carta nasceu como resposta às ameaças que pesam sobre o planeta e como uma forma de se pensar articuladamente os muitos problemas ecológico-sociais, tendo como referência central a Terra ou “Gaia”. Para ele a categoria sustentabilidade deve ser o fundamento do novo paradigma civilizatório que procura harmonizar os seres humanos com o desenvolvimento sustentável da Terra. Embora este termo tenha surgido oficialmente em 1979 na Assembléia das Nações Unidas o conceito possui uma pré-história de quase três séculos, pois já em 1713 foi utilizado para designar a percepção da escassez provocada pelo desflorestamento decorrente do processo de industrialização. Em 1987, após quase mil dias de reuniões de especialistas convocados pela ONU foi publicado o documento Nosso Futuro Comum onde se encontra a clássica definição: "sustentável é o desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades".
          O desenvolvimento econômico tem sido a mola propulsora da sociedade capitalista e, portanto a produção e o consumo estão diretamente vinculados às questões relativas à sustentabilidade. Se no decorrer da evolução de nossa história a prática política houvesse seguido os princípios de busca do bem comum, com certeza os caminhos trilhados pelo Ocidente estariam mais próximos dos fundamentos da Carta da Terra. Infelizmente, o percurso escolhido foi o da mercantilizarão de todas as coisas e o submetimento da política e da ética à economia. A crise ecológica atual deriva desta escolha que, sendo mantida, poderá ameaçar o futuro da vida no planeta.
         Ainda há tempo para revisões e buscas de alternativas paradigmáticas. Para tanto necessário se faz repensar nossas escolhas criando uma estratégia que substitua a manutenção da política econômica dominante por um novo modo de viver, fruto de um cuidado para com toda a forma de vida no planeta.
         Apesar dos dados apocalípticos apresentados pelo ilustre palestrante os presenteados naquele evento saborearam o sonho e a possibilidade de ver a humanidade como parte de um vasto universo em evolução.   A semente foi lançada em nosso solo em busca do casamento do céu com a terra, visto como o encontro do mundo material com o espiritual e alimentado pelo desejo coletivo de podermos colher frutos de fraternidade e de cuidado para com todas as formas de vida.



Regina de Faria Brito
Presidente SINDIANÁPOLIS -
www.sindianapolis.org