sexta-feira, 8 de abril de 2011

BONS TEMPOS.

Por Regina de Faria

         Eu sou arquiteta urbanista de formação. Anapolina da “gema”. Servidora pública por vocação. Cresci em um meio político, pois nos idos da década de 60 meu pai foi vereador em minha cidade natal, Anápolis-GO. Meu tio Anapolino Silvério de Faria apesar de médico de profissão, ao retornar à casa do Pai em 2008, deixou saudades não apenas a seus familiares, mas a muitos eleitores do município por representar um espécime em extinção: o político íntegro. Em sua extensa e bem sucedida vida pública colecionou honrarias de valor inestimável. Dentre diversos e bem sucedidos vôos na carreira política, foi prefeito de Anápolis por dois mandatos, 1983 a 1985 enquanto o último dos prefeitos nomeados do município e de 1989 a 1992 como prefeito eleito. Não por acaso traz em seu nome a designação de sua maior missão, a devoção de seu trabalho em prol de sua cidade natal.
        Eu tive o privilégio de conviver intimamente com ele, pois no início da década de 60 minha família mudou-se do ultimo andar do Hotel Itamaraty para uma residência construída, na então última rua do traçado urbano da cidade. Ocupávamos a casa do meio situada entre a casa do “tio Nem” mais acima e a do “tio Anapolino” mais abaixo. Ainda titubeante nos meus primeiros passos tive a oportunidade de crescer na convivência muito próxima destas famílias. Em um cenário “rural” as brincadeiras aconteciam entre as grandes mangueiras, fixos, lagartixas e outros bichos localizados nos extensos quintais que se permeavam devido à ausência dos limites dos muros.
        Neste ir e vir frenético esta convivência me propiciou o contato com ilustres personagens da vida política nacional, amigos íntimos de meu tio, tais como Juscelino Kubitschek, Tancredo Neves e Oscar Niemeyer dentre outros. Estas experiências alimentaram meu imaginário infantil e ao mesmo tempo delineava meus caminhos pessoais, cumprindo, também uma missão importante em minha educação cidadã.
        O tempo passou rapidamente e por obra do destino em meados da década de 80 estávamos lado a lado na Prefeitura de Anápolis. Neste local preciso, meu tio obteve seu sucesso maior, pois indubitavelmente tem sido citado por “gregos e troianos” como exemplo do ente político que utiliza o poder a ele conferido com sabedoria visando o pleno desenvolvimento do patrimônio que pertence a toda coletividade. Com este sentimento latente em todas suas ações, sabia com clareza que deveria valorizar os servidores, seus companheiros, que concretizariam as políticas públicas por ele definidas sempre em conjunto com sua equipe técnica. Desta forma, como participante desta equipe o ouvi repetir inúmeras vezes que ele era médico e por isto precisava de outros especialistas auxiliando suas decisões. Os servidores públicos municipais eram considerados por ele parceiros na construção de uma sociedade mais justa e por isto fazia questão de valorizá-los materialmente e emocionalmente.
        O slogan por ele escolhido para caracterizar sua passagem como Prefeito Municipal - “Anápolis eu te amo,” sintetizava todo o sentimento que norteava suas decisões: O amor incondicional a este solo de cerrado. Sua firmeza no agir e a coerência aos seus princípios morais justificam o adjetivo dado pelo seu amigo e jornalista Manoel Vanderic em suas memórias, caracterizando-o como “um cidadão singular.”
        Tenho convicção que estas experiências já definiam o que viria a ser minha missão enquanto profissional: transitei da área da arquitetura e urbanismo para a esfera sindical. Estou no Sindianápolis – Sindicato dos Funcionários e Servidores Públicos  Municipais  de Anápolis desde 2003 e assumi a presidência a partir de 2007. Graças a Deus estou sobrevivendo, apesar das perseguições e humilhações de toda espécie, em uma ceara cheia de espinhos e bichos selvagens de todas as espécies. Tenho colecionado avanços expressivos para os servidores, mas tenho que confessar que, infelizmente, as vitórias acabam sendo ofuscadas pela difícil tarefa de transitar no meio político em um momento em que a corrupção, a impunidade e a hipocrisia são valores inerentes à atividade política. Já se foi o tempo em que um homem não precisava de documentos ou registros em cartório, pois sua honra andava lado a lado com sua palavra.
Bons tempos aqueles...

Regina de Faria Brito
Presidente SINDIANÁPOLIS
www.sindianapolis.org

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