Mais de uma semana depois da tragédia na região serrana do Rio de Janeiro decorrentes de fortes chuvas e que tiveram um número recorde de mortes, desalojados, desaparecidos, o noticiário vai cedendo espaço para novas noticias. O pesadelo que assolou a região-berço de lazer da família imperial no século XIX transformou o Brasil em noticia internacional. Nossos corações continuam a pulsar de forma solidária com as famílias envolvidas nesta tragédia, mas nosso lado cognitivo não pode ficar adormecido evitando a necessária reflexão dos motivos e das conseqüências de tão grandioso desastre anunciado. Diante de tão dura realidade descortinada pelas enxurradas só nos resta lamentar, calar e refletir, pois enquanto as águas e a lama rolam, essa tragédia se desvela aos nossos olhos e trás consigo a necessidade de repensar não apenas as conseqüências decorrentes do modelo equivocado de ocupação do solo, mas também a interligação que existe entre os aspectos sociais, políticos, ambientais e econômicos que estruturam nossa sociedade.
Analistas afirmam que a intensidade anormal das chuvas na região foi a principal causa desta tragédia provocada principalmente pelo intenso aquecimento que está submetida nossa superfície terrestre e decorrente alteração climática. Fatores como a ocupação irregular do solo, despreparo das autoridades para reagir às circunstâncias desfavoráveis e a infraestrutura urbana deficiente contribuíram para transformar esta tragédia em uma das “10 mais” do gênero no mundo.
O governador Sérgio Cabral (PMDB) do Rio de Janeiro, em recente entrevista expôs de forma lúcida e corajosa a constatação óbvia de que a partir da constituição brasileira de 1988 a função do solo urbano é de atribuição e responsabilidade da municipalidade e, portanto cabe aos governantes atuar na fiscalização e controle dos assentamentos irregulares e em áreas de risco ambiental. De acordo com ele esta tragédia vivencia o pesadelo das conseqüências da ação irresponsável da política populista que tem recaído sobre nossas cidades. São milhares de famílias em todo o país vítimas de governos que vem permitindo e algumas vezes estimulando a ocupação de regiões de alto risco ambiental que estão sendo utilizados como currais eleitorais para abrigar a população de baixo poder aquisitivo nas diversas regiões do país.
A menos de um ano, mais precisamente na madrugada de 6 de Abril de 2010, centenas de pessoas instaladas em um aterro sanitário nas imediações de Niterói desceram morro abaixo também vítimas da irresponsabilidade oficial, da demagogia de gerações de políticos e governantes que abriram caminhos nas encostas instáveis da temerária topografia da região fluminense para ali instalar seus eleitores. As centenas de mortos que o Rio de Janeiro chora não foram vítimas apenas do desequilíbrio ambiental causado também pela ação antrópica irresponsável, mas décadas de irresponsabilidade e de demagogia por parte dos governantes estão sendo determinantes na contagem recorde destas tragédias. Os falsos beneméritos dão ajuda material a famílias inteiras para que se instalem em áreas de alto risco em troca do voto delas nas eleições.
Este episódio reforça a convicção de que essas tragédias urbanas fazem parte e refletem o colapso de um sistema político regado à custa da corrupção irresponsabilidade e impunidade. Com o advento do período de seca vem o esquecimento e retorna o modelo político vigente em nosso país a espera de mais uma catástrofe. De acordo com o poeta Sergio Vaz, "Ninguém é obrigado a ajudar os outros. Nem a ficar de braços cruzados." A hora é para exercitar a nossa cidadania de modo a reverter a cegueira e a surdez que acometem a maioria de nossos agentes políticos contribuindo, assim com nossa parcela para o bem comum.
Regina de Faria Brito
Presidente SINDIANÁPOLIS
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