Por: Regina Faria
“Se você é capaz de tremer de indignação a cada vez que se comete uma injustiça no mundo, então somos companheiros.”
Che Guevara
Atualmente é fácil observar que as pessoas estão perdendo a dignidade, o amor próprio, vendo seus direitos sendo dilapidados e simplesmente cruzam os braços e esperam o momento de perder sua voz, quando não mais poderão reagir. Este fato me levou à decisão de entrar na ação sindical objetivando usar a energia da indignação para transformar a condição de escravidão dos companheiros servidores. Nestes 28 anos de trajetória no serviço publico me indignei inúmeras vezes ao presenciar injustiças e jogos de poder que tinham como único objetivo utilizar as leis com todo o seu rigor para os desafetos do poder e buscar as brechas para favorecer os amigos dos gabinetes. Acreditando que a alegria está na luta, na tentativa, na transformação da indignação e do sofrimento envolvido e não na vitória propriamente dita iniciei uma trajetória permeada por ataques e perseguições à minha pessoa. Apesar de toda pressão o Sindianápolis colecionou muitas vitórias e teve ao seu lado parceiros que levantaram conjuntamente as bandeiras por nós hasteadas.
Continuei minha luta coerente com os princípios e idealismo que sempre nortearam minhas ações desde sempre. No entanto tive o desprazer de ver pessoas que anteriormente estiveram ao meu lado atacarem minha conduta apesar de estar perfeitamente coerente com minha trajetória enquanto presidente do sindicato.
Ficar indignada em face de injustiça sempre fez parte de meu temperamento e está inserido em um contexto de minha formação como cidadã em defesa da vida plena e digna. Exemplificando, em 1993 quando era conselheira tutelar do Conselho dos Direitos da Criança e do Adolescente recebi uma denuncia em relação aos serviços prestados no Hospital Municipal. Coincidentemente naquela mesma ocasião, meu querido irmão de sangue, Dr. Fernando de Faria era então secretário da saúde do governo Wolney Martins. Minha proposta junto aos demais membros do referido conselho foi convocá-lo para uma reunião para prestação de contas sobre as denuncias que a nós foram encaminhadas. Meus colegas conselheiros estranharam minha proposta e me perguntaram como iria argüir uma pessoa tão cara na minha vida. Imediatamente utilizei os ensinamentos de meu saudoso e caro tio Anapolino de Faria, ex-prefeito de Anápolis, que costumeiramente afirmava: “- Justiça começa em casa.” A proposta foi aceita e no dia marcado meu irmão foi humildemente à reunião onde foi severamente inquirido acerca das denuncias. Ao terminar a reunião atravessei a porta do conselho e naquele momento ele voltou a ser meu irmão amado sem qualquer tipo de mágoa ou ressentimentos, pois ambos sabíamos que nossas ações devem estar norteadas por uma coerência interna e não por preceitos mesquinhos e individualistas.
Na certeza de que a força não provém da capacidade física e sim de uma vontade indomável e convencida que só se perde a liberdade por culpa da própria fraqueza, aprendi a transformar cada pedra no caminho em motivação para alcançar os objetivos delineados pelos meus sonhos. De qualquer maneira nunca foi fácil assumir posições que contrariam os interesses de quem detem o poder e obviamente ser vidraça é muito menos confortável quando se é o lado fraco deste jogo desigual. Este é o preço da lealdade aos princípios que norteiam minha conduta.
O meu alento é ter a certeza que a exclusão sectária é uma atitude estranha ao Espírito de Deus. Apenas o verdadeiro cristão sabe acolher, apoiar e estimular os homens (e mulheres) que defendem uma causa nobre, ainda que não estejam cadastrados em sua comunidade.
Regina de Faria Brito
Presidente SINDIANÁPOLIS
www.sindianapolis.org