A QUESTÃO DO FEMININO.
Por Regina Faria.
O Dia Internacional da Mulher, celebrado no dia 8 de Março, tem como origem as manifestações das mulheres russas por "Pão e Paz" - por melhores condições de vida e trabalho e contra a entrada do seu país na Primeira Guerra Mundial. Nos Estados Unidos e na Europa essas manifestações já haviam surgido desde os primeiros anos do século XX, no contexto das lutas de mulheres por melhores condições de vida e trabalho, bem como pelo direito de voto.
O fato de vivermos em uma sociedade que possui sua organização pautada na ideologia patriarcal induziu as mulheres à necessidade de grande mobilização de seus esforços em busca da garantia de seus direitos essenciais.
Conforme Joseph Campbell os hebreus foram os primeiros a usar o termo pai para denominar o que até então era a Deusa Mãe ou Mãe Terra, a divindade da religião entre os antigos que cultuava as mulheres.
Nas diversas tradições espirituais o antagonismo entre o feminino e o masculino está presente de maneira diferenciada. No cristianismo, primordialmente na Igreja Católica, Maria, a mãe de Jesus, é reverenciada deste os tempos primitivos. A Virgem Maria é também admirada pelos muçulmanos. Nos textos Bíblicos encontramos no Antigo Testamento, mulheres exercendo forte liderança e permanente papel na formação da consciência do povo hebreu. O Novo Testamento, não é diferente do Antigo Testamento, quanto à participação feminina na caminhada do Povo de Deus. Além de Maria a mãe de Jesus outras mulheres, acompanharam e permaneceram com Jesus em toda sua curta trajetoria até o pé da Cruz.
A filosofia Taoísta, por sua vez, tem em sua estrutura conceitual dois pólos arquetípicos – o yin e o yang – que conjuntamente dão a essência do Tao enquanto processo cósmico de continuo fluxo e mudança. Nesta concepção chinesa, todas as manifestações são geradas pela interação dinâmica desses dois pólos arquetípicos e todos os fenômenos naturais são manifestações de uma contínua oscilação entre estes dois pólos.
De forma simplificada o arquétipo Yin está associado às seguintes características: noite, inverno, umidade, frescor, interior, feminino, intuitivo, sintético, receptivo. Por sua vez o arquétipo Yang está relacionado: ao dia, verão, secura, calidez, superfície, masculino, racional, analítico, agressivo. Se atentarmos para esta lista de opostos, é fácil perceber que nossa sociedade tem favorecido sistematicamente o yang em detrimento do yin. Somos fruto de uma visão cartesiana e mecanicista que caracterizou a revolução cientifica. Nossa cultura está dominada pelo pensamento racional e pelo conhecimento cientifico. Esta busca insana, por sua vez, esteve alicerçada na crença de que o avanço tecnológico traria a solução para todos os males da sociedade. O conhecimento racional prevalece sobre a sabedoria intuitiva, a ciência sobre a religião, a competição sobre a cooperação, a exploração de recursos naturais em vez de conservação, e assim por diante. Nossos ideais estão centrados no individualismo exacerbado e na competição desmedida.
Esta ênfase sustentada pelo sistema patriarcal durante os três últimos séculos acarretou um profundo desequilíbrio cultural que está na própria raiz de nossa atual crise – um desequilíbrio em nossos pensamentos e sentimentos, em nossos valores e atitudes e em nossas estruturas sociais, econômicas e políticas. A freqüente associação do yin com passividade e do yang com atividade enquadra as mulheres em um modelo de passividade e receptividade e os homens como ativos e criativos. Essas imagens buscam trazer uma explicação cientifica para manter as mulheres num papel subordinado, subserviente, em relação aos homens.
Nas décadas mais recentes, conclui-se que todas essas idéias e esses valores estão seriamente limitados e necessitam de uma revisão radical. O declínio do patriarcado, o final da era do combustível fóssil e a mudança de paradigma que vivenciamos estão contribuindo para uma transição de dimensões planetárias. Estamos chegando a um momento decisivo em que necessário se faz uma revolução cultural na verdadeira acepção a palavra. A sobrevivência de toda a nossa civilização pode depender de sermos ou não capazes de realizar tal mudança. Com certeza, as mulheres possuem um papel primordial nesta transformação já em curso, pois mais do que ninguém conhecem os processos de gestação, nascimento e vida.
Regina de Faria Brito
Presidente SINDIANÁPOLIS
www.sindianapolis.org