segunda-feira, 25 de julho de 2011

A CIDADE DE ANA.

Por Regina de Faria

              No dia 31 de Julho comemora-se os  104 anos de Anápolis e sua história coincide, em meados do século XIX, com as primeiras penetrações no território onde se localiza a cidade, por habitantes do Norte do País, que, dirigindo-se às Províncias do Sul, percorriam a extensa faixa de terras entre Jaraguá e Silvânia. A Província de Goiás era um imenso sertão pouco povoado. A população era eminentemente rural, sendo as cidades pouco habitadas e distantes umas das outras. As estradas eram precárias e as mercadorias eram transportadas no lombo de mulas levando, às vezes, meses para chegar a seu destino. Quando Gomes de Souza Ramos chegou ao local com o objetivo de construir a capela de Santana, alguns viajantes já haviam fixado residência pelo interior, principalmente nas cabeceiras do riacho das Antas. Contudo, somente em 10 de março de 1892 foi instalado o município e em 31 de julho de 1907 foi elevado à categoria de cidade, com o nome de Anápolis, a cidade de Ana.
               Inicialmente seu crescimento urbano se adequou à topografia e a cidade cresceu espontaneamente entre os fundos de vale em torno da capela de Santana. Contudo, sob os aspectos de sua evolução urbana, pode-se afirmar que seu crescimento acelerado tem sido marcado pela aprovação excessiva de loteamentos sem a intervenção planejadora do poder público. Esta prática determinou o estabelecimento de problemas urbanos agravados ao longo do tempo, como a ausência de infra-estrutura, serviços e equipamentos urbanos, dispersão urbana, expansão sobre áreas de preservação ambiental, segregação sócio-espacial, dentre outros fatores. Hoje, mais do que antes é nítido o espraiamento da ocupação e esta dispersão tem acompanhado a evolução urbana do município, em virtude, principalmente da pressão do capital imobiliário para a ampliação da área de expansão urbana.
             Apesar dos diversos Planos Diretores urbanos aprovados no município (1968, 1985, 1992 e 2006) apontarem sempre como objetivo principal a contenção da expansão urbana, a ação governamental, com raras exceções nas diversas gestões municipais, foi contrária a esta política, contribuindo com a formação e valorização dos vazios urbanos e da decorrente dispersão urbana, causadora dos altos custos de urbanização. Pode-se afirmar que, em Anápolis não houve uma falta de políticas públicas, principalmente em relação à aprovação sistemática de Leis para a ampliação do perímetro urbano, mas estas ações fizeram parte de um modelo de gestão que privilegiou os interesses dos agentes privados ligados, principalmente ao capital imobiliário.
             Os frágeis mecanismos de controle entre as relações público-privadas em todo o país têm conduzido à política estatal a ser presa fácil da corrupção desmascarando a relação incestuosa entre o público e o privado e jogando luz sobre as trevas que encobrem o submundo que tem sido o financiamento de campanhas políticas. O caixa dois, já comprovado publicamente, mas ainda sem punição, passa a ser um negócio de mão dupla que interessa tanto aos próprios políticos, que se beneficiam do dinheiro durante as eleições, quanto aos investidores, que são favorecidos quando o ex-candidato ocupa algum mandato. Com certeza, as “doações” aguardam a “recompensa” futura do investimento de campanha acobertado por uma prática obscura e obscena adornada por um marketing político sofisticado. Se não bastasse incluí-se a estas doações, a prática de licitações arranjadas e obras superfaturadas, que acabam sendo reinvestidas nas campanhas eleitorais transformando a figura do “doador”, prevista na legislação eleitoral, em investidor que, como tal, buscará seu lucro.
               O encarecimento das campanhas políticas, exigindo mais e mais recursos a cada dia, tornou menos transparente as relações entre a iniciativa privada e o poder público, alimentando esta prática degradante. A política abandona a essência de seu conceito de dar o sentido da ação, pois desagregada do valor ético perde a razão de sua existência.
              Comemora-se o aniversário de Ana com muitos avanços na esfera administrativa e com a retomada de investimentos públicos, mas torna-se imprescindível avaliar e refletir sobre as consequências nefastas sedimentadas na estrutura urbana do município causados pela distorção da prática política vigente em todo o país.




Regina de Faria Brito
Presidente SINDIANÁPOLIS
www.sindianapolis.org